quinta-feira, 7 de abril de 2011

De Aderaldo Luciano:

Em 24 de março de 2011 01:15, Aderaldo Luciano <luizcangaceiro@gmail.com> escreveu:
Muitos daqui e de além já me perguntaram quem eram meus pais. Quem foi
a minha mãe. Escrevo esse testemunho movido pelo recente mal-entendido
entre os conterrâneos Altamir e Adelaide. Espero que tudo já tenha
sido esclarecido. Certamente o foi. Mas quem eram meus pais, quem foi
minha mãe? Não conheci meu pai e, por motivos legais, não poderei
citar seu nome. Minha mãe, seguramente, muitos desse grupo a terão
conhecido, muitos se lembrarão da mulher simples e de nenhum estudo,
da doméstica e da trabalhadora incansável, de nenhum requinte ou
qualquer ambição, que não fosse ver seu filho, Aderaldo, sendo uma
pessoa melhor no mundo deteriorado. Minha mãe foi Dona Mocinha,
peregrina de tantos trabalhos árduos, passageira em tantas cozinhas,
humilde e serviçal e que me repetia, como num mantra sagrado: —
Estude, meu filho, estude!, ela mesma analfabeta.

Ah! Minha mãe, não citarão teu nome nas rodas palacianas, nem o
escreverão em algum caderno comemorativo. Não soltarão fogos, nem
gritarão vivas em teu aniversário e mesmo poucos irão à tua sepultura
no dia de finados. Não lembrarão de ti, os poderosos. Não brindarão à
tua saúde, as potestades. Os prefeitos e vereadores deverão um dia,
muito longe, ter pedido teu voto. Nem sabiam que tu não votavas. Os
homens e mulheres de posses de Areia nem te notavam na rua, nem sabiam
quem eras, queriam apenas teus frágeis braços enxaguando suas roupas,
teus pequeninos dedos lavando seus pratos depois do jantar, tuas
delicadas mãos varrendo suas varandas ou carpindo seus quintais.

Oh, mamãe, lembro como hoje de teus lisos cabelos castanhos, do teu
sorriso tão natural, de teu abraço e teu cheiro. Lembro de tua
alegria, de tua meiguice, mas sobretudo de tua não ignorância quanto à
maldade do mundo. — Cuidado com os malfazejos!, tu me dizias. — Não se
engane com mulher!, tu me advertias. E eu não te obedeci, me iludi com
ambos. Doei a uns minha inteligência, a outras minha ingenuidade. Mas
o tempo passa e amadurecemos. Compreendemos então que tudo é uma
farsa, que tudo é ilusão, como dizia o velho e bom Augusto, o poeta.

Não pude te pedir perdão, nem dizer que te amo. Como eu sofria, mamãe.
Sofri do mal da incompreensão. Sofri preso na condição paupérrima de
um dia não ter nada para comer e ir para escola com fome e permanecer
com fome à noite e dormir e acordar porque nos faltava tudo, menos a
esperança, firme e semeadora dos meus mais íntimos sonhos e esses me
massacravam, impossíveis que eram de se realizar. Mas aprendi contigo
a ser teimoso, por isso repito, mamãe: não louvarão teu nome, não
comungarão tua passagem pela terra, não saberão de tuas dores, nem
alardearão em praça pública a tua dignidade. Não te dirão que eras
grande e que foste fundamental para a felicidade do mundo. Não
pronunciarão teu nome verdadeiro, Josefa, como aquela que fundou os
patamares de um mundo melhor. Mas não precisas de nada disso, minha
querida. Estás rindo porque me vês como querias: sem dinheiro, mas sem
me vender. Sem cargos públicos, mas trabalhando. Sem muito gozo, mas
com muita paz. Meu coração te basta!

Aprendi com minha mãe a escrever meus versos com a lágrima do
desespero, o canto da celebração e o riso maroto da ironia. MInha mãe
era Dona Mocinha a que construiu Tebas, a das sete portas.

Abraço a todos!

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1 comentários:

Edmundo disse...

Meu Preclaro Bardo, linda e emocionante esta sua cronica,ao termino de minha leitura, derramei lagrimas silenciosas, pois, conheci sua saudosa genitora lá no Centro São Francisco, de dona Ezilda Milanez, onde a mesma prestava serviço, foi uma varoa, mas la na mansão de Nosso PAI, ela sorri feliz, em ver seu filho com os estudos realizados, com o titulo de Doutor! Valeu conterraneo!!!!!!!!!!