quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cronica escrita por Aderaldo Luciano:

Meus amigos, comunico o falecimento na tarde de ontem de meu amigo
Edvaldo Amaro. Pessoa simples e sofrida, Edvaldo viveu da maneira mais
humilde possível em Areia. Passou necessidades, dormiu e apanhou pelas
ruas de Areia. Nunca feriu ninguém, mesmo assim foi levado preso
algumas vezes, denunciado por algum janota que se sentiu violentado
pela sua presença. Edvaldo Amaro estudou no Carlota Barreira, mas não
concluiu o primário. Trabalhador na roça, era conhecido de todos, mas
pouca gente lhe deu importância ou atenção. Nenhum programa o acolheu
para proteger-lhe de si mesmo e de sua doença incurável.

Edvaldo era conhecido pela alcunha de Chato e nutria por mim um
carinho de irmão. Muitas vezes o acolhi em minha casa. Me chamava de
Derinha, apelido desde o tempo de criança, quando bríncávamos lá no
sítio Pau-d'Arco. Era filho natural de Severino e Maria Chato. Dona
Ezilda Milanez, na tentativa de poupá-lo do alcoolismo dos pais,
deixou-o com minha mãe e passamos bons momentos, todos juntos, morando
no quartinho, nos fundos do Centro São Francisco. Depois, quando Zé
Maurício (Bacana) casou com Dona Chiquinho, Dona Ezilda o deu ao casal
para adoção, já que não podiam ter filhos.

Foram morar no Pau-d'Arco, sob os auspícios de Seu João Barreto. Aos
domingos, invariavelmente, eu ia a casa deles para passar o dia e
brincar pelos recantos do sítio. Crescemos, Edvaldo desenvolveu o
alcoolismo e tornou-se a figura marcada que alguns aqui conheceram.
Sofri muito com o rumo que a sua vida tomou. Na última vez que o
encontrei, já estava paralítico de uma perna e andava de muletas.
Conversamos e soube de sua luta para vencer o álcool, mas faltava-lhe
força e estrutura social. Os pais haviam morrido e o estigma de
irresponsável foi fácil de depositarem sobre si. Não pude ajudá-lo
muito, apenas servi de modelo quando resolvi parar de beber e resolver
minha vida, mas eu não estava mais em Areia.

Muitos dias conversei com Naldo Mousinho, pensando em uma maneira de
ajudar-lhe, mas é muito difícil ajudar um alcoólatra. Quem tem um na
família o sabe bem. A morte de Chato é apenas mais uma em Areia
motivada pela doença. Perdi muitos amigos para o álcool e cada um de
nós conhece alguém que perdeu essa batalha. Talvez por isso eu seja
contra o Bregareia naqueles moldes de incentivo à cachaça. Mas isso é
outra coisa.

Queria apenas aqui, homenagear, triste e solitário, o meu amigo Chato.
Encontrará do outro lado, seus pais naturais, seus pais adotivos e
minha mãe que o acolheu desde o nascimento. Siga em paz, meu irmão,
que a terra lhe seja leve, já que Areia sempre lhe foi pesada.

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1 comentários:

Dora Casado disse...

Lindo, o texto. Que descanse em paz, essa sofrida figura.
Um cheiro.