"DIONE FEITOSA, O PEDRA "90"!!!
DEPOIS QUE MEU PAI,EXPEDITO NUNES VIANA, FENECEU HÁ 19 ANOS, TODOS AQUELES QUE EU ME APROXIMO MAIS QUE EU, COMEÇO A SENTIR UMA ESTIMA QUASE PATERNAL. É O QUE ESTÁ ACONTECENDO ATUALMENTE COM MUITOS DOS MEUS AMIGOS QUE CONVIVO. DEIONE FEITOSA EXERCIA SOBRE MIM, ESTE FASCÍNIO DE UM AR DE "PATER PODER". TODAS AS VFEZES QUE NOS ENCONTRAAVAMOS, PRINCIPALMENTE NOS BARES DA VIDA, VIA AFLORAR SOBRE MIM, A IMAGEM ENCARNADA DO MEU ESTIMADO GENITOR.. ESPERO QUE AO FAZER ESTA REVELAÇÃO, OS MEUS OUTROS AMIGOS NÃO COMECEM A ME DISCRIMINAR POR ESTE MOMENTO DE VERDADE. NA REALIDADE, EU TINHA UMA GRANDE AFEIÇÃO POR ESTE AMIGO.
TENHO UM TIO QUE DIZIA: NINGUEM É INSUBSTITUIVEL! EM PRINCIPIO, TEORICAMENTE SIM, CONCORDO COM ELE! MAS, EXISTEM PESSOAS QUE, PARA SUBSTITUI-LAS, DEMORAR-SE-Á SECULOS PARA TAL FEITO ACONTECER. PERGUNTO-LHE: QUANTO TEMPO PASSARÁ PARA APARECER OUTRO PELÉ? OUTRO ZICO? OUTRO MARADONNA? OUTRO MICHAEL JACKSON? OUTRO LUIZ GONZAGA? OUTRO ALCIDES CARNEIRO? OUTRO ZÉ LAURENTINO? OUTRO DR. ZERBINI? OUTRO JUSCELINO KUBISTSCHEK? OUTRO DR.ALBERT EINSTEIN? OUTRO NELSON GONÇALVES? OUTRO IVANILDO VILA NOVA? OUTRO SIVUCA?...
TINHA UMA PESSOA EM NOSSA TURMA DE ENCONTROS DE FINAIS DE SEMANA E DAS NOSSAS CONFRATERNIZAÇÕES QUE PASSARÁ MUITO TEMPO PARA ENCONTRARMOS OUTRO SUBSTITUTO.
EU TINHA UMA ESTIMA DE FILHO PARA COM UM PAI. UMA SIMPATIA E UM AMOR DESPRENDIDO DE INTERESSES PECUNIARIOS OU OUTRO TIPÓ DE PROVEITO. ELE ERA O IMÃ, COM SUA FORÇA MAGNETICA DEDILHANDO AS CORDAS DO SEU VIOLÃO, FAZIA GRAVITAR, TODOS NÓS.
FOI REPENTISTA, PALHAÇO DE CIRCO, MEMBRO DA BANDA DE MUSICA DA POLICIA MILITAR DO II BATALHÃO EM CAMPINA GRANDE. ESPIRITUOSO, PIADISTA, BOM AMIGO, DA PAZ QUE FAZIA TUDO PARA DAR AO GRUPO UMA BOA HARMONIA. ERA BRANCO, COM TEZ QUASE PUXANDO PARA ALBINO. CABELOS E BARABA BRANCOS. AO USAR CHAPÉU, SE PARECIA COM BÚFALO BILL; SEM CHAPÉU. LEMBRAVA VINICIUS DE MORAIS. MAS, UMA DAS GRANDES VIRTUDES, DO SARGENTO DIONE FEITOSA, ERA O AMOR E A SUA ESTIMA AO VIOLÃO.
OS NOSSO ENCONTROS E SARAUS ERA METADE DE CONVERSAS E O RESTO: MUSICAS DE ÓTIMAS QUALIDADES, ACOMPANHADAS PELO "VIOLÃO DE OURO" DE DIONE FEITOSA.ÁS VEZES, QUANDO DESAFINAVAMOS OU ENTRAVAMOS ERRADOS NA INTRODUÇÃO, NUNCA GOZOU DE NOSSA CARA. PARAVA E DIZIA: UM MOMENTO, VOU MELHORAR O TOM! QUNDO TERMINAVA A MUSICA, ELE NOS ACARICIAVA COM PALAVRAS, DIZENDO: OLHE AÍ, MAIS DE DEZ MIL PESSOAS APLAUDINDO...!!!!
QUEM NÃO CONHECEU DIONE, PERDEU UAM GRANDE OPORTUNIDADE DE TER CONVIVIDO COM ELE. ERA UM CARA BEM HUMORADO, LOUCO PARA TOCAR VIOLÃO. BOM AMIGO, BOA PRAÇA, DE CONDUTA OLIBADA, ATENCIOSO, EDUCADO,EMPOLGADO EM DIZER AS COISAS, MARAVILHOSO DECLAMADOR. TINHA UMA EDUCAÇÃO DE BERÇO, MUITO MAIS EDUCADO QUE MUITOS DOUTORES DE ANEIS QUE CONHECI E CONHEÇO. DIONE ERA QUASE PERFEITO EM TUDO QUE FAZIA. PARA MIM ERA UM VERDADEIRO "PEDRA 90"( A BOLA BOA, OU SEJA, UM SUJEITO LEGAL...AQUELE QUE FAZ A DIFERENÇA. PESSOA CEM POR CENTO HONESTA, SINCERA, NOTA 1000) REPIRO, QUEM NÃO O CONHECEU, PERDEU. QUEM NÃO CONVIVEU COM ELE, DEIXOU DE OUVIR UM EXIMIO ACOMPANHADOR AO VIOLÃO, O QUAL PARECIA FAZER PARTE DE SEU CORPO E DA SUA VIDA. QUEM NÃO TEVE O PRAZER DE ESCUTAR O "MONOLOGO DAS MÃOS", PERDEU DE OUVIR O SEU MAIOR DECLAMADOR.(COPIA EM ANEXO).
AOS DOMINGOS, PELA MANHÃ, REUNIAMOS NO BAR DO GUEDES, NO BAIRRO DE SANTA ROSA, EM CAMPINA GRANDE, E FAZIAMOS AQUELA RODA, TOMANDO CERVEJA, OU BEBNDO WISK,M OU ENTORNANDO VINHO. GUEDES, O DONO DO BAR, SERVINDO-NOS. INAJÁ, SARGENTO MENDES CANTANDO: CELIA, A CAMISOLA DO DIA... NELSON ROBERTO DANDO UM SHOW PARTICULAR QUE VOCE DEVERIA OUVIR, CANTANDO "BALADA NUMERO 7", QUE TODAS AS VEZES QUE OUÇO, FICO COM OS MEUS PELOS DOS BRAÇOS TODOS ERIÇADOS. ESTE É UM PEQQUENO EXEMPLO DO SEU VASTO REPERTORIO. EU, CANTANDO RISQUE, ARGUMENTO, CICLONE, O TROCO.... INAJÁ CANTANDO, CAMINHEMOS, CASTIGO, A CARTA, FIM DE JORNADA, VITIMAS IGUAIS E VARIAS DE CARLOS ALBERTO, LUPICINIO RODRIGUES E BIENVENIDO GRANDA, CANTANDO COM A ALMA E DANDO INTERPRETAÇÃO INVEJAVEL; TODOS A CANTARMOS ACOMPANHADOS AOS ACORDES DO VIOLÃO DO GRANDE "DIONE". RUI VIEIRA DECLAMANDO E CONTANDO PIADAS. JOSÉ LAURENTINO CONTANDO E HISTORIAS DE CANTORIAS E DECLAMANDO SEUS VERSOS. EDNALDO, FILHO DE DIONE, ACOMPANHANDO AS MUSICAS, ORA NO VIOLÃO DE SETE CORDAS, ORA COM O SEU CAVAQUINHO. ÀS VEZES, APARECIA O ADVOGADO E POETA REPENTISTA APOLONIO CARDOSO QUE CANTAVA SUA MUSICA PREFERIDA:"MEU ROMANCE". SEM, NO ENTANTO, ESQUECERMO-NOS DAS PRESENÇAS DOS NOSSOS AMIGOS: HILTON QUE SEMPRE NOS OFERTAVA SABOROSOS TIRAGOSTOS FEITOS POR SUA ESPOSA. ABEL, JUNIOR DE INAJÁ, PETRONIO QUE QUANDO ESTAVA PUXANDO UM FOGUINHO, TAMBEM TRAZIA UMA BOA PARCELA DE SABOROSOS PETISCOS PARA DEGUSTARMOS. WANDERLEY, SR. FRANCISCO, CARLOS FERNANDES, SARGENTO LIRA, NEGO DA CAGEPA, ANTONIO BORGES, ADERCIO, NALDO FERNANDES, TICO, MEU MOTORISTA, SR. FRANCISQUINHO(COMERCIANTES DE PEÇAS DE AUTOMOVEIS EM CAMPINA GRANDE), EUNICE(madrinha), O SEU AMIGO DR. ARIVAN VIANA E TANTOS OUTROS QUE FICAVAM FAZENDO RODA Á NOSSA VOLTA. ESTE SIM, ERA O NOSSO VERDADEIRO ENCONTRO DOMINICAL. PARA MIM, ERA O MEU ISORDIL AUDITIVO PARA RECOMEÇAR A LABUTA DA SEMANA COM MEU ASTRAL ALTO, FICANDO NA EZPECTATIVA DE NOVO ENCONTRO DA TURMA NO PROXIMO DOMINGO.
SENTIMOS SAUDADES DESSES NOSSOS ENCONTROS. A FALTA DE DIONE QUASE ACABOU COM O NOSSO GRUPO. ESTAMOS ATÉ HOJE PROCURANDO UM NOVO VIOLONISTA PARA A VACANCIA EM ABERTO, PORÉM, ATÉ O MOMENTO, AINDA NÃO ENCONTRAMOS NENHUM QUE FOSSE UM "PEDRA 30" PARA ASSUMIR O SEU POSTO. POR ISSO É QUE DISCORDO DA OPINIÃO DO MEU TIO. NINGUEM É INSUBSTITUIVEL,MAS HÁ ALGUMAS PESSOAS OU COISAS QUE DEMORA BASTANTE TEMPO PARA SE SUBSTITUIR.
O TEMPO PASSOU, DIONE SEPAROU O SEU CORPO DO SEU ESPIRITO, EM VINTE E TRES DE AGOSTO DE 2008, E A CADA DIA QUE SE PASSA, FICAMOS MAIS CIENTES QUE ELE ERA O GRANDE ELO QUE LIGAVA TODOS NÓS. VIMOS, POR FIM, QUE O" PEDRA 90" ERA REALMENTE O SUPER-HOMEM, UM SUPER AMIGO, UM SUPER ARTISTA, E QUE, UMA VEZ TERMINADA A NOSSA BRINCADEIRA, VOLTAVA CALMO E SATISFEITO PARA OS BRAÇOS DE SUA ESPOSA, PARA DESCANSAR NO SEU LEITO TEMPORARIO.
INAJÁ BORGES, SEU AMIGO E SEU IRMÃO DE FÉ E POR AFINIDADE, DIR-LHE-Á, CASO TENHA VONTADE DE CONHECER MAIS SOBRE A VIDA DE DIONE FEITOSA, DE MUITAS E MUITAS COISAS PITORESCAS DESSE GRANDE ARTISTA E AMIGO QUE SE FOI.
QUANTAS NOITES, DIONE AMANHECIA NOS CABARÉS DE CAMPINA GRANDE, MAS NÃO ERA EM BUSCA DE AVENTURAS AMOROSAS, OU PATRA SER UM CONQUISTADOR, OU PARA PROCURAR UMA MULHER VIOLÃO. E SIM, FAZENDO DO SEU VIOLÃO UM INSTRUMENTO DE TRABALHO PARA GANHAR UNS TROCADOS A MAIS, A FIM DE AUMENTAR SUA RENDA PARA DAR UMA MELHOR CONDIÇÃO DE VIDA À SUA FAMILIA.
TINHA UMA FAMILIA QUE ERA UM POOL DE PESSOAS MUSICAIS. A EXEMPLO DE SUA FILHA DIONALDA, COM UMA VOZ BELA E CANTANDO MELHOR QUE MUITAS CANTORAS QUE SE APRESENTAM NA TELEVISÃO, QUE AS VEZES PENSO QUE ELES PAGAM CARO PARA ESTAREM LÁ( SE VOCE TIVESSE O PRAZER DE OUVIR DIONALDA CANTANDO: NUNCA, LINDA FLOR, VOCE IRIA DIZER: GAL COSTA QUE SE CUIDE...!!!) EDNALDO TBM FILHO, QUE TBM TOCA VIOLÃO E CAVAQUINHO DE FORMA MARAVILHOSA.
NOS SEUS ULTIMOS DIAS DE PASSAGEM SOBRE ESTES MOMENTOS TERRESTRE, RECEBEU DE UMA FORMA ABNEGADA A ATENÇÃO DE SUA ESPOSA ALDA, DOS SEUS FILHOS: WILMA, DIONALDA, EDNALDO, DIOGENES, DION JUNIOR E DANELLE E NETOS. NADA LHE FALTAVA DE DEDICAÇÃO, MAS A DOENÇA FOI MAIS FORTE, VENCEU TUDO E A TODOS. ARRANCOU-NOS ESTE SER TÃO ESTIMADO POR TODOS NÓS.
EM NOSSO MEIO DE CONVIVENCIA, SO GUARDAMOS OTIMAS LEMBRANÇAS DE QUEM, EM SUA VIDA, SOUBE SER FELIZ E FAZER FELIZ QUEM ESTAVA A SUA VOLTA; VIDA ESTA, QUE É UM SEGREDO PROFUNDO! O GRUPÓ, QUE NÓS PARTICIPAVAMOS, NUNCA MAIS OUVIU VIBRAR AS CORDAS SONORAS DO SEU VIOOLÃO.
ATUALMENTE, ENVOLTO NO SEU SONO ETERNO, A POEIRA DA SAUDADE AINDA NÃO COBRIU NAS NOSSAS MEMORIAS SUA AUSENCIA. HOJE, ELE MORA NA "CIDADE DO ALEM", NA SANTA MANSÃO AO LADO DE DEUS. NESSE REINO DA ETERNIDADE, TENHO CERTEZA QUE VIVERÁ COMO UM ANJO QUERUMBIM TOCANDO SEU VIOLÃO.
DEUS, AQUI,9OS SEUS AMIGOS QUE FICARAM, FAZEMOS UM PEDIDO, ROGANDO AO SENHOR: AMPARAI COM VOSSO AMOR E PIEDADE, ESTE AMIGO QUE SE FOI E QUE DOS NOSSOS PENSAMENTOS NUNCA SAIU, ATÉ O PRESENTE MOMENTO, AINDA SENTIMOS SUA FALTA. QUE O SENHOR FIQUE SABENDO ISTO: " A MORTE ESTAVA ENGANDA, O NOME DE DIONE FEITOSA VIVERÁ DEPOIS DELA"!!!!
JOSÉ ALVES NETO
MEDICO - ITAPORANGUENSE.
sábado, 30 de abril de 2011
MONOLOGO DAS MÃOS!!!
PARA QUE SERVEM AS MÃOS??
AS MÃOS SERVEM PARA PEDIR, CHAMAR, CONCEDER, COMANDAR, ACARICIAR, SUPLICAR...
AS MÃOS SERVEM PARA MATAR, REGER, APLAUDIR, ESCREVER, TRABALHAR...
A MÃO DE "MARIA ANTONIETA" AO RECEBER O BEIJO DE "MIRABEAU" SALVOU O TRONO DA FRANÇA E APAGOU A AURÉOLA DO FAMOSO REVOLUCIONARIO.
"MUSCIO SCÉVOLA QUEIMOU A MÃO QUE POR ENGANO NÃO MATOU "PORCENA".
FOI COM AS MÃOS QUE "JESUS CRISTO" AMPAROU MADALENA.
"PILATOS" LAVOU AS MÃOS PARA LIMPAR A CONSCIENCIA...E AS MÃOS DOS "CÉSARES" DETERMINAVAM O ESTINO DE VIDA OU MORTE DOS GLADIADORES.
A MÃO ABERTA ACARICIANDO MOSTRA BONDADE, MAS, FECHADA E LEVANTADA MOSTRA FORÇA E PODER.
A MÃO SERVE PARA O HERÓI EMPUNHAR A ESPADA E O CARRASCO A CORDA.
COM A MÃO ATIRA-SE UM BEIJO, UMA PEDRA, UMA FLOR, ATIRA-SE UMA GRANADA, UMA ESMOLA OU UMA BOMBA!!!
COM AS MÃOS SE CONSTROEM OS SALVA-VIDAS E OS CANHÕS...OS BALSAMOS, OS INSTRUMENTOS DE TORTURA, A ARMA QUE FEREE O BISTURI QUE SALVA.
COM AS MÃOS NÓS TAPAMOS A VISTA PARA NÃO VER, MAS SÃO COM ELAS QUE PROTEGEMOS A VISTA PA RA VER MELHOR.
OS OLHOS DOS CEGOS SÃO AS MÃOS. OS MUDOS FALAM COM AS MÃOS.
AS MÃOS NA AGULHETA DE UM SUBMARINO LEVAM O HOMEM PARA O FUNDO DO MAR COMO OS PEIXES, MASNA VOLANTE DA AERONAVE JOGAM O HOMEM PARA AS ALTURAS COMO OS PÁSSAROS.
COM A MÃO O AGRICULTOR SEMEIA E O ANARQUISTA INCENDEIA.
AS MÃOS FORAM NOSSA PRIMEIRAS ARMA, A NOSSA PRIMEIRA DEFESA.
JESUS ABENÇOAVA COM AS MÃOS!!!
O NOIVO PARA PEDIR A CRIATURA AMA DA EM CASAMENTO... PEDE-LHE A MÃO!
E NAS DESPEDIDAS, A GENTE PARTE, MAS FICA POR LONGO TEMPO, UM LENÇO BRANCO NO AR.
E NOS DOIS EXTREMOS DA VIDA, QUANDO NASCEMOS E QUANDO MORREMOS AINDA SÃO AS MÃOS QUE PREVALECEM.
QUNDO NASCEMOS, PARA NOS LEVAR A CARICIA DO PRIMEIRO BEIJO, SÃO AS MÃOS MATERNAS QUE NOS AGASALHAM O CORPO PEQUENINO. E NO FIM DA VIDA QUANDO OS OLHOS FECHAM, O CORPO GELA E OS SENTIDOS DESAPARECEM... AINDA SÃO AS MÃOS BRANCAS DE CERA QUE CONTINUAM NA MORTE AS MESMAS FUNÇÕES DA VIDA! E A IMAGEM CONSOLADORA DO "NAZARENO"PREGADO À CRUZ, VAI CONOSCO PARA DEBAIXO DA TERRA, COM AS NOSSAS MÃOS CRUZADAS SOBRE O PEITO. AS MÃOS DOS AMIGOS NOS CONDUZEM. MAS AS MÃOS DOS COVEIROS QUE NOS ENTERRAM!!!!
AS MÃOS SERVEM PARA PEDIR, CHAMAR, CONCEDER, COMANDAR, ACARICIAR, SUPLICAR...
AS MÃOS SERVEM PARA MATAR, REGER, APLAUDIR, ESCREVER, TRABALHAR...
A MÃO DE "MARIA ANTONIETA" AO RECEBER O BEIJO DE "MIRABEAU" SALVOU O TRONO DA FRANÇA E APAGOU A AURÉOLA DO FAMOSO REVOLUCIONARIO.
"MUSCIO SCÉVOLA QUEIMOU A MÃO QUE POR ENGANO NÃO MATOU "PORCENA".
FOI COM AS MÃOS QUE "JESUS CRISTO" AMPAROU MADALENA.
"PILATOS" LAVOU AS MÃOS PARA LIMPAR A CONSCIENCIA...E AS MÃOS DOS "CÉSARES" DETERMINAVAM O ESTINO DE VIDA OU MORTE DOS GLADIADORES.
A MÃO ABERTA ACARICIANDO MOSTRA BONDADE, MAS, FECHADA E LEVANTADA MOSTRA FORÇA E PODER.
A MÃO SERVE PARA O HERÓI EMPUNHAR A ESPADA E O CARRASCO A CORDA.
COM A MÃO ATIRA-SE UM BEIJO, UMA PEDRA, UMA FLOR, ATIRA-SE UMA GRANADA, UMA ESMOLA OU UMA BOMBA!!!
COM AS MÃOS SE CONSTROEM OS SALVA-VIDAS E OS CANHÕS...OS BALSAMOS, OS INSTRUMENTOS DE TORTURA, A ARMA QUE FEREE O BISTURI QUE SALVA.
COM AS MÃOS NÓS TAPAMOS A VISTA PARA NÃO VER, MAS SÃO COM ELAS QUE PROTEGEMOS A VISTA PA RA VER MELHOR.
OS OLHOS DOS CEGOS SÃO AS MÃOS. OS MUDOS FALAM COM AS MÃOS.
AS MÃOS NA AGULHETA DE UM SUBMARINO LEVAM O HOMEM PARA O FUNDO DO MAR COMO OS PEIXES, MASNA VOLANTE DA AERONAVE JOGAM O HOMEM PARA AS ALTURAS COMO OS PÁSSAROS.
COM A MÃO O AGRICULTOR SEMEIA E O ANARQUISTA INCENDEIA.
AS MÃOS FORAM NOSSA PRIMEIRAS ARMA, A NOSSA PRIMEIRA DEFESA.
JESUS ABENÇOAVA COM AS MÃOS!!!
O NOIVO PARA PEDIR A CRIATURA AMA DA EM CASAMENTO... PEDE-LHE A MÃO!
E NAS DESPEDIDAS, A GENTE PARTE, MAS FICA POR LONGO TEMPO, UM LENÇO BRANCO NO AR.
E NOS DOIS EXTREMOS DA VIDA, QUANDO NASCEMOS E QUANDO MORREMOS AINDA SÃO AS MÃOS QUE PREVALECEM.
QUNDO NASCEMOS, PARA NOS LEVAR A CARICIA DO PRIMEIRO BEIJO, SÃO AS MÃOS MATERNAS QUE NOS AGASALHAM O CORPO PEQUENINO. E NO FIM DA VIDA QUANDO OS OLHOS FECHAM, O CORPO GELA E OS SENTIDOS DESAPARECEM... AINDA SÃO AS MÃOS BRANCAS DE CERA QUE CONTINUAM NA MORTE AS MESMAS FUNÇÕES DA VIDA! E A IMAGEM CONSOLADORA DO "NAZARENO"PREGADO À CRUZ, VAI CONOSCO PARA DEBAIXO DA TERRA, COM AS NOSSAS MÃOS CRUZADAS SOBRE O PEITO. AS MÃOS DOS AMIGOS NOS CONDUZEM. MAS AS MÃOS DOS COVEIROS QUE NOS ENTERRAM!!!!
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Cronica escrita por Aderaldo Luciano:
Meus amigos, comunico o falecimento na tarde de ontem de meu amigo
Edvaldo Amaro. Pessoa simples e sofrida, Edvaldo viveu da maneira mais
humilde possível em Areia. Passou necessidades, dormiu e apanhou pelas
ruas de Areia. Nunca feriu ninguém, mesmo assim foi levado preso
algumas vezes, denunciado por algum janota que se sentiu violentado
pela sua presença. Edvaldo Amaro estudou no Carlota Barreira, mas não
concluiu o primário. Trabalhador na roça, era conhecido de todos, mas
pouca gente lhe deu importância ou atenção. Nenhum programa o acolheu
para proteger-lhe de si mesmo e de sua doença incurável.
Edvaldo era conhecido pela alcunha de Chato e nutria por mim um
carinho de irmão. Muitas vezes o acolhi em minha casa. Me chamava de
Derinha, apelido desde o tempo de criança, quando bríncávamos lá no
sítio Pau-d'Arco. Era filho natural de Severino e Maria Chato. Dona
Ezilda Milanez, na tentativa de poupá-lo do alcoolismo dos pais,
deixou-o com minha mãe e passamos bons momentos, todos juntos, morando
no quartinho, nos fundos do Centro São Francisco. Depois, quando Zé
Maurício (Bacana) casou com Dona Chiquinho, Dona Ezilda o deu ao casal
para adoção, já que não podiam ter filhos.
Foram morar no Pau-d'Arco, sob os auspícios de Seu João Barreto. Aos
domingos, invariavelmente, eu ia a casa deles para passar o dia e
brincar pelos recantos do sítio. Crescemos, Edvaldo desenvolveu o
alcoolismo e tornou-se a figura marcada que alguns aqui conheceram.
Sofri muito com o rumo que a sua vida tomou. Na última vez que o
encontrei, já estava paralítico de uma perna e andava de muletas.
Conversamos e soube de sua luta para vencer o álcool, mas faltava-lhe
força e estrutura social. Os pais haviam morrido e o estigma de
irresponsável foi fácil de depositarem sobre si. Não pude ajudá-lo
muito, apenas servi de modelo quando resolvi parar de beber e resolver
minha vida, mas eu não estava mais em Areia.
Muitos dias conversei com Naldo Mousinho, pensando em uma maneira de
ajudar-lhe, mas é muito difícil ajudar um alcoólatra. Quem tem um na
família o sabe bem. A morte de Chato é apenas mais uma em Areia
motivada pela doença. Perdi muitos amigos para o álcool e cada um de
nós conhece alguém que perdeu essa batalha. Talvez por isso eu seja
contra o Bregareia naqueles moldes de incentivo à cachaça. Mas isso é
outra coisa.
Queria apenas aqui, homenagear, triste e solitário, o meu amigo Chato.
Encontrará do outro lado, seus pais naturais, seus pais adotivos e
minha mãe que o acolheu desde o nascimento. Siga em paz, meu irmão,
que a terra lhe seja leve, já que Areia sempre lhe foi pesada.
--
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Edvaldo Amaro. Pessoa simples e sofrida, Edvaldo viveu da maneira mais
humilde possível em Areia. Passou necessidades, dormiu e apanhou pelas
ruas de Areia. Nunca feriu ninguém, mesmo assim foi levado preso
algumas vezes, denunciado por algum janota que se sentiu violentado
pela sua presença. Edvaldo Amaro estudou no Carlota Barreira, mas não
concluiu o primário. Trabalhador na roça, era conhecido de todos, mas
pouca gente lhe deu importância ou atenção. Nenhum programa o acolheu
para proteger-lhe de si mesmo e de sua doença incurável.
Edvaldo era conhecido pela alcunha de Chato e nutria por mim um
carinho de irmão. Muitas vezes o acolhi em minha casa. Me chamava de
Derinha, apelido desde o tempo de criança, quando bríncávamos lá no
sítio Pau-d'Arco. Era filho natural de Severino e Maria Chato. Dona
Ezilda Milanez, na tentativa de poupá-lo do alcoolismo dos pais,
deixou-o com minha mãe e passamos bons momentos, todos juntos, morando
no quartinho, nos fundos do Centro São Francisco. Depois, quando Zé
Maurício (Bacana) casou com Dona Chiquinho, Dona Ezilda o deu ao casal
para adoção, já que não podiam ter filhos.
Foram morar no Pau-d'Arco, sob os auspícios de Seu João Barreto. Aos
domingos, invariavelmente, eu ia a casa deles para passar o dia e
brincar pelos recantos do sítio. Crescemos, Edvaldo desenvolveu o
alcoolismo e tornou-se a figura marcada que alguns aqui conheceram.
Sofri muito com o rumo que a sua vida tomou. Na última vez que o
encontrei, já estava paralítico de uma perna e andava de muletas.
Conversamos e soube de sua luta para vencer o álcool, mas faltava-lhe
força e estrutura social. Os pais haviam morrido e o estigma de
irresponsável foi fácil de depositarem sobre si. Não pude ajudá-lo
muito, apenas servi de modelo quando resolvi parar de beber e resolver
minha vida, mas eu não estava mais em Areia.
Muitos dias conversei com Naldo Mousinho, pensando em uma maneira de
ajudar-lhe, mas é muito difícil ajudar um alcoólatra. Quem tem um na
família o sabe bem. A morte de Chato é apenas mais uma em Areia
motivada pela doença. Perdi muitos amigos para o álcool e cada um de
nós conhece alguém que perdeu essa batalha. Talvez por isso eu seja
contra o Bregareia naqueles moldes de incentivo à cachaça. Mas isso é
outra coisa.
Queria apenas aqui, homenagear, triste e solitário, o meu amigo Chato.
Encontrará do outro lado, seus pais naturais, seus pais adotivos e
minha mãe que o acolheu desde o nascimento. Siga em paz, meu irmão,
que a terra lhe seja leve, já que Areia sempre lhe foi pesada.
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De Aderaldo Luciano:
Em 24 de março de 2011 01:15, Aderaldo Luciano <luizcangaceiro@gmail.com> escreveu:
Muitos daqui e de além já me perguntaram quem eram meus pais. Quem foi
a minha mãe. Escrevo esse testemunho movido pelo recente mal-entendido
entre os conterrâneos Altamir e Adelaide. Espero que tudo já tenha
sido esclarecido. Certamente o foi. Mas quem eram meus pais, quem foi
minha mãe? Não conheci meu pai e, por motivos legais, não poderei
citar seu nome. Minha mãe, seguramente, muitos desse grupo a terão
conhecido, muitos se lembrarão da mulher simples e de nenhum estudo,
da doméstica e da trabalhadora incansável, de nenhum requinte ou
qualquer ambição, que não fosse ver seu filho, Aderaldo, sendo uma
pessoa melhor no mundo deteriorado. Minha mãe foi Dona Mocinha,
peregrina de tantos trabalhos árduos, passageira em tantas cozinhas,
humilde e serviçal e que me repetia, como num mantra sagrado: —
Estude, meu filho, estude!, ela mesma analfabeta.
Ah! Minha mãe, não citarão teu nome nas rodas palacianas, nem o
escreverão em algum caderno comemorativo. Não soltarão fogos, nem
gritarão vivas em teu aniversário e mesmo poucos irão à tua sepultura
no dia de finados. Não lembrarão de ti, os poderosos. Não brindarão à
tua saúde, as potestades. Os prefeitos e vereadores deverão um dia,
muito longe, ter pedido teu voto. Nem sabiam que tu não votavas. Os
homens e mulheres de posses de Areia nem te notavam na rua, nem sabiam
quem eras, queriam apenas teus frágeis braços enxaguando suas roupas,
teus pequeninos dedos lavando seus pratos depois do jantar, tuas
delicadas mãos varrendo suas varandas ou carpindo seus quintais.
Oh, mamãe, lembro como hoje de teus lisos cabelos castanhos, do teu
sorriso tão natural, de teu abraço e teu cheiro. Lembro de tua
alegria, de tua meiguice, mas sobretudo de tua não ignorância quanto à
maldade do mundo. — Cuidado com os malfazejos!, tu me dizias. — Não se
engane com mulher!, tu me advertias. E eu não te obedeci, me iludi com
ambos. Doei a uns minha inteligência, a outras minha ingenuidade. Mas
o tempo passa e amadurecemos. Compreendemos então que tudo é uma
farsa, que tudo é ilusão, como dizia o velho e bom Augusto, o poeta.
Não pude te pedir perdão, nem dizer que te amo. Como eu sofria, mamãe.
Sofri do mal da incompreensão. Sofri preso na condição paupérrima de
um dia não ter nada para comer e ir para escola com fome e permanecer
com fome à noite e dormir e acordar porque nos faltava tudo, menos a
esperança, firme e semeadora dos meus mais íntimos sonhos e esses me
massacravam, impossíveis que eram de se realizar. Mas aprendi contigo
a ser teimoso, por isso repito, mamãe: não louvarão teu nome, não
comungarão tua passagem pela terra, não saberão de tuas dores, nem
alardearão em praça pública a tua dignidade. Não te dirão que eras
grande e que foste fundamental para a felicidade do mundo. Não
pronunciarão teu nome verdadeiro, Josefa, como aquela que fundou os
patamares de um mundo melhor. Mas não precisas de nada disso, minha
querida. Estás rindo porque me vês como querias: sem dinheiro, mas sem
me vender. Sem cargos públicos, mas trabalhando. Sem muito gozo, mas
com muita paz. Meu coração te basta!
Aprendi com minha mãe a escrever meus versos com a lágrima do
desespero, o canto da celebração e o riso maroto da ironia. MInha mãe
era Dona Mocinha a que construiu Tebas, a das sete portas.
Abraço a todos!
--
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Muitos daqui e de além já me perguntaram quem eram meus pais. Quem foi
a minha mãe. Escrevo esse testemunho movido pelo recente mal-entendido
entre os conterrâneos Altamir e Adelaide. Espero que tudo já tenha
sido esclarecido. Certamente o foi. Mas quem eram meus pais, quem foi
minha mãe? Não conheci meu pai e, por motivos legais, não poderei
citar seu nome. Minha mãe, seguramente, muitos desse grupo a terão
conhecido, muitos se lembrarão da mulher simples e de nenhum estudo,
da doméstica e da trabalhadora incansável, de nenhum requinte ou
qualquer ambição, que não fosse ver seu filho, Aderaldo, sendo uma
pessoa melhor no mundo deteriorado. Minha mãe foi Dona Mocinha,
peregrina de tantos trabalhos árduos, passageira em tantas cozinhas,
humilde e serviçal e que me repetia, como num mantra sagrado: —
Estude, meu filho, estude!, ela mesma analfabeta.
Ah! Minha mãe, não citarão teu nome nas rodas palacianas, nem o
escreverão em algum caderno comemorativo. Não soltarão fogos, nem
gritarão vivas em teu aniversário e mesmo poucos irão à tua sepultura
no dia de finados. Não lembrarão de ti, os poderosos. Não brindarão à
tua saúde, as potestades. Os prefeitos e vereadores deverão um dia,
muito longe, ter pedido teu voto. Nem sabiam que tu não votavas. Os
homens e mulheres de posses de Areia nem te notavam na rua, nem sabiam
quem eras, queriam apenas teus frágeis braços enxaguando suas roupas,
teus pequeninos dedos lavando seus pratos depois do jantar, tuas
delicadas mãos varrendo suas varandas ou carpindo seus quintais.
Oh, mamãe, lembro como hoje de teus lisos cabelos castanhos, do teu
sorriso tão natural, de teu abraço e teu cheiro. Lembro de tua
alegria, de tua meiguice, mas sobretudo de tua não ignorância quanto à
maldade do mundo. — Cuidado com os malfazejos!, tu me dizias. — Não se
engane com mulher!, tu me advertias. E eu não te obedeci, me iludi com
ambos. Doei a uns minha inteligência, a outras minha ingenuidade. Mas
o tempo passa e amadurecemos. Compreendemos então que tudo é uma
farsa, que tudo é ilusão, como dizia o velho e bom Augusto, o poeta.
Não pude te pedir perdão, nem dizer que te amo. Como eu sofria, mamãe.
Sofri do mal da incompreensão. Sofri preso na condição paupérrima de
um dia não ter nada para comer e ir para escola com fome e permanecer
com fome à noite e dormir e acordar porque nos faltava tudo, menos a
esperança, firme e semeadora dos meus mais íntimos sonhos e esses me
massacravam, impossíveis que eram de se realizar. Mas aprendi contigo
a ser teimoso, por isso repito, mamãe: não louvarão teu nome, não
comungarão tua passagem pela terra, não saberão de tuas dores, nem
alardearão em praça pública a tua dignidade. Não te dirão que eras
grande e que foste fundamental para a felicidade do mundo. Não
pronunciarão teu nome verdadeiro, Josefa, como aquela que fundou os
patamares de um mundo melhor. Mas não precisas de nada disso, minha
querida. Estás rindo porque me vês como querias: sem dinheiro, mas sem
me vender. Sem cargos públicos, mas trabalhando. Sem muito gozo, mas
com muita paz. Meu coração te basta!
Aprendi com minha mãe a escrever meus versos com a lágrima do
desespero, o canto da celebração e o riso maroto da ironia. MInha mãe
era Dona Mocinha a que construiu Tebas, a das sete portas.
Abraço a todos!
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Por Aderaldo Luciano:
Em 28 de março de 2011 01:09, Aderaldo Luciano <luizcangaceiro@gmail.com> escreveu:
Ninguém aqui lembrará de Zeca Toucinho, mas o filho de Neuza morava
com ela lá no final da Rua do Bode, meu reduto inexpugnável. Tocava
bateria só com a boca, como hoje o fazem os rappers. Além disso,
jogava sempre um futebol conosco lá nos toquinhos. Nos amedrontava,
era destemido, não respeitava a ordem social e não era benquisto na
Rua Grande. Foi meu amigo de longas noites silenciosas. Talvez
tivéssemos os mesmos anseios, os mesmos sonhos. Eu agarrei-me com
unhas e dentes no cometa Halley, quando passou por Areia. Zeca foi
pego pela rede da polícia. O grande mito e proeza que nos contava é
que havia fugido do Pindobal, a colônia penal para menores infratores
da Paraíba, naquela época. Soube de sua morte há uns 10 anos. Fiz um
poema para ele, está em meu livro:
A morte do imperador
Encantou-se o São Zeca Toucinho
De noite, 'scorado em bananeiras,
Entre folhas, baratas, ratos, fezes
Pois que ele obrava para a lua.
Bem bebia e demais. Zeca Toucinho
Foi anjo do mal para nós, moleques.
Foi bem mais que santo para Neuza
("Foi Deus que o levou", diria ela),
Mas diriam os conéis de Areia:
"Foi um negro, sacado, sujo e ruim!"
A ele, meu abraço, meu respeito e meu agradecimento, onde quer que
esteja!
Ninguém aqui lembrará de Zeca Toucinho, mas o filho de Neuza morava
com ela lá no final da Rua do Bode, meu reduto inexpugnável. Tocava
bateria só com a boca, como hoje o fazem os rappers. Além disso,
jogava sempre um futebol conosco lá nos toquinhos. Nos amedrontava,
era destemido, não respeitava a ordem social e não era benquisto na
Rua Grande. Foi meu amigo de longas noites silenciosas. Talvez
tivéssemos os mesmos anseios, os mesmos sonhos. Eu agarrei-me com
unhas e dentes no cometa Halley, quando passou por Areia. Zeca foi
pego pela rede da polícia. O grande mito e proeza que nos contava é
que havia fugido do Pindobal, a colônia penal para menores infratores
da Paraíba, naquela época. Soube de sua morte há uns 10 anos. Fiz um
poema para ele, está em meu livro:
A morte do imperador
Encantou-se o São Zeca Toucinho
De noite, 'scorado em bananeiras,
Entre folhas, baratas, ratos, fezes
Pois que ele obrava para a lua.
Bem bebia e demais. Zeca Toucinho
Foi anjo do mal para nós, moleques.
Foi bem mais que santo para Neuza
("Foi Deus que o levou", diria ela),
Mas diriam os conéis de Areia:
"Foi um negro, sacado, sujo e ruim!"
A ele, meu abraço, meu respeito e meu agradecimento, onde quer que
esteja!
Aderaldo Luciano escreveu:
Um dia pensei que ia morrer de amor e escrevi um testamento para a
pessoa que me fazia sofrer tanto. Não morri, pelo contrário, estamos
mais vivos do que nunca e em nossas noites de bem-estar, rimos dos
nossos contratempos:
"Deixo para ti as últimas lembranças de felicidade que me acompanham:
o sorriso de minha mãe e a beleza dos meus três pequeninos samurais.
Cantigas descobertas na vida. Um rádio ligado à noite e um violão
sobre o guarda roupa... O filme pornô que nós não vimos e o motel que
nunca freqüentamos...
Deixo ainda um rol de coisas em que acredito, não são muitas, mas o
suficiente para não morrer demais: acredito no sol, em sua força
criadora. Na água movendo moinhos e secretando a vida. No fogo capaz
de mudar a história e as histórias. No homem domador do raio, do
trovão, da gravidade, vencedor de distâncias, inclusive a dos
corações. Acredito na Língua, união e desunião de povos. Na lança que
fere e que salva. Na selva e sua sudação e fotossíntese. Na vida além
da morte. Na morte por amor e no amor de morte. Na matemática
financeira e no computador.
Deixo para ti, enfim, os insondáveis mistérios e as perguntas tantas
que não desvendei. Por que te conheci? De onde venho, para onde vais?
Quem somos e o que não sou e o que queres ser? As respostas, talvez,
nunca conheçamos. A impossibilidade de habitá-las é meu pesar. A
necessidade de compreendê-las é estrada afora. Vejo as Mangabeiras e
suas trevas.
Escrevo este testamento, pois bem sei que amanhã não existirei mais
como agora o sou. Cansado e só, um peito morto e um rosto pálido, o
sexo inerte e a mão trêmula, o estômago vazio e os pés esquimós,
escuto os sussurros do coração e da aorta, espero o desfecho, como num
conto de Poe. As luzes se apagam, busco duas coisas para continuar
respirando: a dor da solidão de dor e o prazer de saber cantar. Antes
do fim te deixo meu canto, mistura de cisne e guriatã."
pessoa que me fazia sofrer tanto. Não morri, pelo contrário, estamos
mais vivos do que nunca e em nossas noites de bem-estar, rimos dos
nossos contratempos:
"Deixo para ti as últimas lembranças de felicidade que me acompanham:
o sorriso de minha mãe e a beleza dos meus três pequeninos samurais.
Cantigas descobertas na vida. Um rádio ligado à noite e um violão
sobre o guarda roupa... O filme pornô que nós não vimos e o motel que
nunca freqüentamos...
Deixo ainda um rol de coisas em que acredito, não são muitas, mas o
suficiente para não morrer demais: acredito no sol, em sua força
criadora. Na água movendo moinhos e secretando a vida. No fogo capaz
de mudar a história e as histórias. No homem domador do raio, do
trovão, da gravidade, vencedor de distâncias, inclusive a dos
corações. Acredito na Língua, união e desunião de povos. Na lança que
fere e que salva. Na selva e sua sudação e fotossíntese. Na vida além
da morte. Na morte por amor e no amor de morte. Na matemática
financeira e no computador.
Deixo para ti, enfim, os insondáveis mistérios e as perguntas tantas
que não desvendei. Por que te conheci? De onde venho, para onde vais?
Quem somos e o que não sou e o que queres ser? As respostas, talvez,
nunca conheçamos. A impossibilidade de habitá-las é meu pesar. A
necessidade de compreendê-las é estrada afora. Vejo as Mangabeiras e
suas trevas.
Escrevo este testamento, pois bem sei que amanhã não existirei mais
como agora o sou. Cansado e só, um peito morto e um rosto pálido, o
sexo inerte e a mão trêmula, o estômago vazio e os pés esquimós,
escuto os sussurros do coração e da aorta, espero o desfecho, como num
conto de Poe. As luzes se apagam, busco duas coisas para continuar
respirando: a dor da solidão de dor e o prazer de saber cantar. Antes
do fim te deixo meu canto, mistura de cisne e guriatã."
Aderaldo Luciano escreveu!
Gregório de Mattos e Guerra (1633/1696), o Boca do Inferno, nascido na
Bahia, foi o primeiro de nossos satíricos, homem de língua destravada
e fácil veia poética. Estudou humanidades em Portugal, tendo feito o
curso de leis na Universidade de Coimbra. Na terra mãe foi juiz
criminal e de órfãos. Voltou ao Brasil com 47 anos, sob a proteção do
arcebispo da Bahia, D. Gaspar Barata. Tantas e tais fez que não só
perdeu a proteção do prelado, como ainda foi degredado para Angola.
Reabilitado, voltou ao Brasil, indo para Recife, onde conquistou
simpatias e viveu com menos turbulência que na Bahia. É o patrono da
cadeira n.º 16 da Academia Brasileira de Letras. Além de versos
satíricos e humorísticos, escreveu poesias eróticas com a maior
incontinência verbal. Este poema é antológico. Li-o pela primeira vez
também numa aula de Português. Aplique-se ao Brasil daquela época para
que não haja confusão:
Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República em todos
os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia.
Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.
Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.
Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha
Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.
E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.
O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.
A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
--
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Para postar neste grupo, envie um e-mail para os-loucos-por-areia@ googlegroups.com.
Para cancelar a inscrição nesse
Bahia, foi o primeiro de nossos satíricos, homem de língua destravada
e fácil veia poética. Estudou humanidades em Portugal, tendo feito o
curso de leis na Universidade de Coimbra. Na terra mãe foi juiz
criminal e de órfãos. Voltou ao Brasil com 47 anos, sob a proteção do
arcebispo da Bahia, D. Gaspar Barata. Tantas e tais fez que não só
perdeu a proteção do prelado, como ainda foi degredado para Angola.
Reabilitado, voltou ao Brasil, indo para Recife, onde conquistou
simpatias e viveu com menos turbulência que na Bahia. É o patrono da
cadeira n.º 16 da Academia Brasileira de Letras. Além de versos
satíricos e humorísticos, escreveu poesias eróticas com a maior
incontinência verbal. Este poema é antológico. Li-o pela primeira vez
também numa aula de Português. Aplique-se ao Brasil daquela época para
que não haja confusão:
Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República em todos
os membros, e inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia.
Que falta nesta cidade?... Verdade.
Que mais por sua desonra?... Honra.
Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio.
Quem causa tal perdição?... Ambição.
E no meio desta loucura?... Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,
Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.
Dou ao Demo os insensatos,
Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.
Quem faz os círios mesquinhos?... Meirinhos.
Quem faz as farinhas tardas?... Guardas.
Quem as tem nos aposentos?... Sargentos.
Os círios lá vem aos centos,
E a terra fica esfaimando,
Porque os vão atravessando
Meirinhos, guardas, sargentos.
E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.
Que vai pela clerezia?... Simonia.
E pelos membros da Igreja?... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?... Unha
Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.
E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.
O açúcar já acabou?... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu?... Subiu.
Logo já convalesceu?... Morreu.
À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece:
Cai na cama, e o mal cresce,
Baixou, subiu, morreu.
A Câmara não acode?... Não pode.
Pois não tem todo o poder?... Não quer.
É que o Governo a convence?... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.
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Aderaldo Luciano escreveu:
Este soneto conheci-o em aula de Português cuja professora era Dona
Toinha. Aplique-se a Areia:
Soneto XXXII
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
- Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Guilherme de Almeida
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Toinha. Aplique-se a Areia:
Soneto XXXII
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada;
e, estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são feitos de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
- Que os meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Guilherme de Almeida
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Perguntas de um Operário Letrado
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou, Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas.
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Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou, Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas.
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