terça-feira, 17 de novembro de 2009

" DESTINO "

                                                       
          O nosso homem do povo, com cerrada convicção, assevera: o que há de acontecer tem muita força!!
           Na opinião de muitos, o homem procura muitos desvios na sua vida terrena. Mas a sua estrada principal, a sua meta definitiva já vem traçada. Daí, a lição: o que tem de acontecer, acontecerá.
           Desde menino, na minha terra natal, a cidade de AREIA, conheci HENRIQUE BATISTA DE ALBUQUERQUE.Alto,moreno,de boas maneiras,estimado por todos, sempre com aquela calma que Deus lhe deu.
          Era um homem honesto, simples, empregado do Fisco estadual ao qual dedicara as suas melhores energias, ou grande parte de sua vida.
          Constituiu uma família numerosa:: onze filhos, todos vivos. Com imenso sacríficio, muita boa vontade, renúncia e despreendimento, enfrentando às vezes longiquos  lugares do interior, onde não podia levar a família, HENRIQUE BATISTA ia encaminhando os seus filhos, à medida das suas possibilidades, educando uns, colocando outros, á proporção que a velhice se apresenta.
          Depois de tantos labores no serviço público, com a família residindo nesta Capital, o meu bom amigo se aposenta.
          Quando eu morava na Rua 13 de maio e me encaminhava para o Colégio Estadual, onde leciono, sempre passava pela Eliseu Cesar e , o encontrando na janela de sua casa, dava com ele uns dedos de prosa, onde vultos antigos da nossa Areia eram recordados. HENRIQUE, sempre manso, educado, amante da família, de maneiras simples, me afirmou certa vez: O meu problema, agora, é uma casinha para  a minha família; já estou velho e quero,  depois de tanto tempo de serviço dedicado ao Estado, deixar pelo menos isto para os meus!!
          Em outra ocasião, ele satisfeito me afirma: Afinal, consegui a casinha pelo MONTEPIO;  a escritura será passada dentro de poucos dias.....!!
          Notei imensa satisfação no semblante do meu honesto amigo que, com tanta dignidade, tinha por tanto tempo sevido ao Fisco da Paraíba.
          Dois dias depois,à tarde, HENRIQUE  me adianta: talvez amanhã possa lavrar finalmente a tal escritura! Saio satisfeito com a notícia do meu modesto amigo. No outro dia soube: HENRIQUE BATISTA, à noite do dia anterior, caíra defronte do  CINEMA PLAZA fulminado por um enfarto, nas vésperas de assinar o documento que lhe daria aquilo a que tinha tanto direito e tanto almejara: uma casinha modesta, para sua honrada família depois de quarenta anos de serviço ao Estado!



ESTA CRONICA FOI ESCRITA PELO DESEMBARGADOR AURÉLIO DE ALBUQUERQUE,AREIENSE BARRISTA COMO EU,NO JORNAL A "UNIÃO" DE 24 DE JULHO DE 1957.

Obs:Esta cronica comovente me foi enviada pelo filho do homengeado,o tabelião Areiense, JOSÉ HENRIQUES DE ALBUQUERQUE.

2 comentários:

Bete disse...

Como areiense, também barrista que sou, me solidarizo com a dor dos que ficaram e lamento o sonho não realizado do que partiu. Designío de Deus!

Edmundo disse...

ei mana,mas o pai realizou o sonho, a casa foi adquirida pelo montepio,só que ele partiu logo apos a compra da mesma.