quinta-feira, 27 de agosto de 2009

METADE ( DE OSWALDO MONTENEGRO)

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas aoutra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corroi por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra mim fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade de mim é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.


Obs: Este poema eu dedico a todos aqueles que amam até o invisível,e como bem se expressou outro poeta diante daqueles que realmente sabem o que é Amar--- eis um trechinho: Direis agora: tresloucado amigo! que conversas com elas? Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo?
E eu vos direi: Amai para entendê-las! pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas. ( DE OLAVO BILAC)..

0 comentários: